Se alguma vez uma série morreu em vergonha foi Birds of  Prey. 
O episódio piloto, já aqui ficou o alerta há algumas  semanas, é vergonhoso. Admira, inclusivamente, como é que apostaram numa  primeira temporada depois do telefilme ser uma pessegada. Uma série com três  heroínas que é só conversa de chacha, um vilão sem a menor qualidade de vilão e  uma personagem principal tão irritante que damos vivas quando apanha e  não quando bate. 
As histórias lá se vão sucedendo a conta gotas e a  heroína vai claramente mudando a sua personalidade para melhor. Sorri mais,  interage mais, não é tão cabra como originalmente concebida. 
Aquilo que  mais me ficou gravado na retina, porém, foi a poupança em termos de factores de  produção. Não há uma única cena de exteriores que tenha um único figurante. As  ruas estão sempre desertas a não ser pelos personagens que intervêm. Quando os  personagens dão saltos no ar, os cabos são sempre evidentes. Apagam-nos, é  certo, mas esquecem-se de que as roupas repuxam quando há algo entre o tecido e  o corpo, e isso nota-se. Depois, insistem nos saltos em altura, quando qualquer  pessoa sabe que um salto é sempre um movimento em arco, do ponto de partida ao  ponto de chegada, e que os saltos com cabos mostram sempre que, a dada altura, a  pessoa fica suspensa e é arrastada até onde tem de aterrar. Até Matrix  sofria desse problema, mas pelo menos a montagem permite encobrir as  falhas. 
A série é cancelada ao 11º episódio mas, pela primeira vez na  História, é-lhe permitido gravar mais dois episódios suplementares, para atar os  pontos que ficaram soltos. Se assim tão fosse, a personagem de arqui-inimiga  Harley Quinn nunca teria arrancado do solo, tendo tido entretanto apenas alguns  gags (curiosamente, os mais bem sucedidos) em menos de metade do número  de episódios. 
Terá sido uma oportunidade a pensar já numa edição  possível futura edição em DVD? Não sei quem é que gastará dinheiro nela, mas  talvez. 
Os dois últimos episódios são histórias separadas, mas alguns  momentos do episódio 12 desaguam no 13, no final do qual há um showdown no  feminino. Mas, o terror ...
O quartel general das  heroínas foi tomado de ataque e as heroínas estão de fora. Mas decidem entrar  com uma explosão. Só que quando o fazem, é ao som de ... All the things she  said das T.a.t.u., banda russa que ficou famosa pelas duas adolescentes  vocalistas simularem uma atracção lésbica uma pela outra. 
Isto deixa  duas péssimas impressões: a primeira das quais é o desajuste da canção a uma  cena de pancadaria entre três heroínas, um meio-herói, uma vilã e seus capangas;  e a segunda é a conotação despropositada que é dada à luta entre mulheres, que  se queria apenas um combate do bem contra o mal ...
Fiquei em estado de  choque durante toda a cena de pancadaria mal ensaiada ao som de Lena e Yulia,  que progrediu depois para um discurso emocionado de não a mates, tu não és  como ela, eu sei que ela matou o teu namorado, mas não te tornes como ela,  ainda ao som da mesma canção. Senti então que há séries que não merecem existir.  Por todos os motivos. 
P.S. Sabem o momento não a mates, tu  não és como ela? A série era tão despojada de ideias que, em apenas 13  episódios, as três heroínas passaram pelo mesmo momento. Para uma foi não a  mates apesar de ela ter morto o teu namorado, para outra não o mates  apesar de ele ter morto o teu pai e para a que resta não o mates apesar  de ele ter morto a tua mãe. 
Dá para acreditar em tanta tristeza?
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